Notícias Contábeis


Como fica o negócio quando o casal é sócio e o relacionamento acaba

12/06/2025

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn

Quando um casal fica junto, a ideia é perseguir o objetivo de ser “felizes para sempre”. Nessa vibração, fazer e concretizar planos e realizar sonhos, na maioria das vezes, acontece no calor da emoção e sem muita razão. Inclusive quando se quer empreender. O casal monta um negócio junto, e na empolgação, vira sócio na prática, mas não no papel. De repente, o amor acaba e a confusão está feita.

“A ideia de que casais podem prosperar financeiramente juntos faz sentido. Mas precisa ser construída com intencionalidade. Não basta amor ou afinidade. Empreender a dois exige alinhamento planejamento e, principalmente maturidade emocional”, acredita Franciele Marques, analista de negócios do Sebrae-SP.

A analista explica que, embora não haja uma base científica robusta no Brasil especificamente sobre casais empreendedores, o que se observa no campo, acompanhando negócios de pequeno porte é que muitos casais se juntam para empreender como forma de somar forças. “Quando há respeito e visão compartilhada, dá certo. Porém, quando o relacionamento se sobrepõe à gestão, a empresa tende a sofrer”, diz.

Para Marques, existem prós e contras quando se trata de sociedade entre um casal. O maior ponto a favor, afirma, é a confiança. Casais que têm sintonia conseguem dividir responsabilidades com maior fluidez, tomam decisões com mais agilidade e, frequentemente, compartilham o mesmo propósito.

Por outro lado, o que mais pesa contra é a mistura de papéis. “Quando o emocional entra no comando, o foco na gestão se perde. Já vi empresas quebrarem por causa de brigas pessoais mal resolvidas. Isso não acontece da noite para o dia, na verdade, vai minando o negócio aos poucos”, ressalta Franciele Marques.

O advogado Rodrigo Totino, sócio do MBT Advocacia, especialista nas áreas Societária e de Planejamento Patrimonial, aponta que, além da confiança mútua, o alinhamento de valores e objetivos e a agilidade na gestão (em função da comunicação fluida) podem ser positivos para uma sociedade de casal. Ao mesmo tempo, segundo ele, o risco de conflitos emocionais no ambiente de trabalho e a dificuldade para manter limites claros depõem contra essa situação.

Transparência e organização
É claro que não dá para prever quanto um relacionamento vai durar. No entanto, para evitar complicações, existem várias providências para proteger essa relação de sociedade e evitar problemas no futuro. Veja quais são:

Separar o que é pessoal do que é profissional. “Isso inclui não levar discussões de casa para dentro do negócio”, sugere Franciele Marques, do Sebrae-SP. O advogado Rodrigo Totino concorda que um dos principais desafios é não misturar questões afetivas com decisões empresariais, ou seja, dispor de momentos e ambientes separados para tratar dos assuntos da empresa ajuda a manter o equilíbrio.
Definir bem as funções. Cada um deve saber claramente quais são suas atribuições dentro da empresa. Isso evita sobreposição de tarefas e conflitos em relação ao comando. “Um pode cuidar do financeiro e o outro, do comercial”, exemplifica Totino.
Investir na profissionalização da gestão. Mesmo sendo um negócio familiar – entre o casal – é fundamental tratá-lo como uma organização profissional. “É importante, inclusive, ter uma visão de fora, um contador confiável, um mentor ou um consultor. Eles ajudam a equilibrar a tomada de decisão. Quando uma empresa depende apenas da intuição do casal, fica vulnerável a conflitos emocionais”, acredita Marques.
Buscar diálogo e maturidade emocional. “O respeito e a capacidade de escuta são indispensáveis para tomar decisões em conjunto e enfrentar momentos de crise com união”, afirma Rodrigo Totino.
Formalizar a sociedade. De acordo com o advogado Totino, ter um contrato social bem elaborado, com cláusulas claras sobre a participação societária, retirada de lucros, sucessão e resolução de conflitos é fundamental. “Um acordo de sócios pode complementar esse documento com detalhes sobre regras internas”, ensina. Para Franciele Marques, a informalidade é um risco. Como existe a relação afetiva, muitos casais deixam de documentar decisões importantes. “Mas a empresa precisa sobreviver independentemente do estado da relação. A ausência de um bom acordo societário pode custar caro”, diz.

O relacionamento acabou, e agora?
Para Lorena Geiger Hauser, advogada do escritório Andersen Ballão Associados, especialista em Direito Societário, o divórcio ou a separação de sócios que são um casal representa um dos maiores desafios para as empresas familiares. “Essa situação pode comprometer a continuidade e a estabilidade da sociedade, já que o fim do vínculo afetivo, frequentemente, desencadeia disputas judiciais sobre a administração, o controle e a partilha do patrimônio empresarial, afetando a credibilidade construída ao longo de anos”, afirma.

Mas não precisa ser assim. O fim do relacionamento do casal não precisa ser o fim da sociedade comercial. Se a empresa estiver bem estruturada e formalizada e, importante, se o casal registrou como ficam os negócios no caso de rompimento entre eles, pode passar por essa questão e ficar bem. É necessário, contudo, que o contrato preveja o que acontece com a saída de um dos sócios, a divisão de cotas, a retirada de lucros e até o uso da marca.

Se não tiver havido planejamento prévio, o casal, agora ex-sócios, pode ter de enfrentar disputas sobre a administração, a divisão de lucros, sobre a titularidade da marca ou dos ativos. “Em alguns casos, o desfecho pode ser a dissolução do negócio”, informa Rodrigo Totino.

Há algumas saídas caso a solução seja vender o negócio, e elas devem constar no contrato social: “Pode haver cláusulas de compra e venda, definindo como as cotas podem ser negociadas entre os sócios ou com terceiros, caso não queiram seguir juntos no empreendimento. Também pode haver cláusulas e direito de preferência para assegurar que um sócio tenha prioridade na aquisição de cotas do outro. Também pode haver mecanismos de solução de conflitos, como a previsão expressa de mediação”, sugere a advogada Hauser.

Manter o negócio mesmo após a separação do casal (“casado” ou de namorados) pode ser uma opção. “Neste caso, é preciso revisar o contrato e ajustar as regras de gestão, adequando-as à nova dinâmica”, explica Lorena Geiger Hauser.

É importante destacar, diz Marques, que o amor pode acabar, mas o respeito deveria continuar: “Já vi muitos ex-casais seguirem como sócios ou até venderem a empresa juntos. Quando há maturidade e equilíbrio, é possível transformar o fim de um ciclo pessoal em um novo começo profissional. Empreender a dois pode ser potente, mas apenas quando o ‘nós’ inclui também o CNPJ, o planejamento e a capacidade de lidar com o imprevisto”, conclui.


Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios

Venha para uma contabilidade que atribui valor à sua empresa!